quarta-feira, 19 de março de 2014

O que queres de mim?


Ontem tive um "mix" de emoções que mexeram muito comigo.

A começar pela vontade tremenda que eu estava de ficar em casa no período da noite, assistindo os capítulos atrasados de “Scandal” (eu estou adorando a Olivia Pope!), sem ter que ir até o Centro Espírita simplesmente para acompanhar minha esposa, e passar por todo aquele processo de chá de banco e tal. 

Enfim, expliquei várias vezes que eu realmente estava decidido a ficar em casa, mas ela, com toda a sua insistência, me convenceu a ir por livre e espontânea pressão. Nem preciso dizer que fui mordido daqui até lá, conversando monossilabicamente durante todo o trajeto.

Chegando lá, como eu já previa, fui convidado a entrar na sala de trabalho, mas não aceitei mesmo estando bastante agradecido por isso. Sou medroso demais e enquanto eu não vencer esse receio vai ser difícil desenvolver essa habilidade mediúnica. Disse que ficaria na sala de espera, junto à moça que seria assistida. A médium que me convidara até disse que daria no mesmo se eu esperasse lá dentro e, em silêncio, pensei : “Ah, não mesmo, aqui eu fico de boa!” 

E é aí que começa a ficar interessante. A moça sentou ao meu lado, sorriu e começou a se confidenciar comigo. 

Disse que quase não conseguiu ir até o Centrinho, pois o
namorado é de berço evangélico e estava fazendo de tudo para que ela não fosse. Além do mais, ele tinha bebido o dia inteiro e provavelmente ele brigaria com ela em seu retorno.

Ela prosseguiu dizendo que tinha muito medo do que
poderia acontecer dentro da sala do trabalho, mas a curiosidade dela era ainda maior que o medo e tudo mais.

Eu, para não parecer mais antissocial do que já pareço, disse a ela que eu já tinha participado daquele trabalho como assistido, que também era medroso, mas tinha sido tão lindo e tão importante para mim que eu participaria de outros tranquilamente. Disse que seria muito bom pra ela entender o porque de estar acontecendo certas coisas em sua vida.

A partir daí, ela mudou bruscamente a postura e me disse: “Não sei porque, mas vou te uma falar umas coisas. Meu namorado, além de beber, faz uso de drogas, recentemente me agrediu fisicamente, não sei o que ele usa, mas sei que ele fica muito agitado e não dorme. Eu não sei o que sinto realmente por ele, mas acredito que seja minha missão cuidar dele.” E ela continuou, para minha surpresa total. “Como se não bastasse, meu filho também teve envolvimento com drogas, mas hoje está bem”. Contou ainda que ela própria tinha problemas com farmacodependência, tendo até sido internada numa clínica psiquiátrica.

 Eu sorri e disse: “Moça, eu entendo o que você está passando, pois também sou dependente químico, hoje em recuperação, mas já agi e muito como seu namorado”. 

Conclusão: ficamos cerca de 40 minutos trocando impressões sobre a vida, num clima de total sinceridade. A cada palavra, cada estória e cada opinião que eu dava a ela, sentia sua confiança aumentar. Era como, se pouco a pouco, ela fosse saindo de dentro da caverna que ela fazia de esconderijo. 

Chegado o momento de adentrar a sala, lhe desejei sorte e fiquei ali tentando entender aquilo tudo. Vinte minutos
depois ela saiu de lá, muito emocionada. Veio em minha direção, me abraçou e me disse o quanto tinha sido bom conversar comigo. 

Quanto a mim, ficou a impressão de ter trabalhado tanto quanto aqueles médiuns que estavam na sala. Eu estava ali
ainda atordoado por tudo aquilo. Estranhamente energizado por algo que eu desconhecia, mas que dava uma ótima sensação de dever cumprido.

Tudo muito estranho pra um cara estranho como eu. 

Só por Hoje!


5 comentários:

  1. ah, que engraçado, eu ia te sugerir colocar essa música nesse post, mas acabei saindo de casa sem falar... o retorno de hoje é "paulo, paulo, o que queres de mim???"

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  2. Muito interessante sua experiência Khal. Nosso Poder Superior, da forma que o compreendemos, direciona suas intenções para onde mais precisamos. Somos seres enigmáticos com relação as nossas afinidades humanas. Nós, dependentes em recuperação, temos que lapidar as pedras brutas que nos são colocadas pelo caminho, diariamente. É um trabalho árduo... que permite olharmos para o fim do dia, com esperança de um amanhã repleto de pedras brutas para lapidar. Precisamos recomeçar sempre. Abraços.

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  3. Khal... bom dia. Eu fico vendo vc sentado sozinho la na sala e me pergunto: nossa deve ser um tédio ficar assim. Como eu costumo colocar sp a razão na frente do que faço, fico ruminando possibilidades de reverter situações que dependam de minha decisão. Entao nesta terça qdo te vi, passou pela minha cabeça uma forma de vc participar que te entusiasmasse já que sei de suas negativas a convites de outros companheiros. Acabou que a moça que faria a entrevista com a assistida não foi e eu acabei me dedicando a ela antes do trabalho iniciar. Agora lendo seu depoimento percebi que quem fez mesmo a entrevista com ela foi vc. Isso prova que vc deve se valorizar mais, tem tarefas a sua espera, tem que ter olhos de ver. Teu coração tá pronto pra servir. Seu fisico cada dia mais te devolve aptidões. Precisa vencer a razão que te amarra, te amedronta e te afasta de algo que so te trará crescimento. Me aguarde.

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